
Nas pedras roliças da praia…olhava o beijo das águas…num constante abraço…feito vida “ad eternum”.
Mesmo ao lado, no seco espaço areia , um chorão ainda não tinha acordado…e libertado o odor da flor fascínio…no eclodir de um sol a medo.
Aconchego o passo…e, extasio-me num estuário desconhecido…onde navegam epopeias de gerações feitas, de e no mar. Pergunto-me constantemente…onde reside a beleza eterna desta tela natureza?
Apenas o ruído de uma gaivota em fuga…cantando amores de um ninho deixado à pressa…me obriga a olhar o céu melancólico…onde as nuvens nem hospitalidade oferecem.

Mãos nos bolsos, máquina de fotografias ao pescoço…recordo ainda as últimas notícias …agravantes de um sistema…cada vez mais deficiente.
Refresco-me na fonte que brota sem jeito da falésia…e, sorrio ( o primeiro do dia ) a água é doce….com sabor a beijo fresco. Lavo as mãos…borrifo o olhar…e enleio os cabelos já grisalhos…num pentear quase tique.
Não me apetece fazer nada…e, tenho tanto para fazer. Chego-me junto das águas cadenciadas…e. apetece-me descalçar…entrar mundo dentro deste mar amante…e. deixar-me afogar nas carícias envolventes de águas sedentas de corpos. Sento-me na areia húmida…descalço-me…arregaço as calças…deixo-me cair e só o bater seco da máquina na areia me desperta. Lanço o habitual….BOLAS!!!! …..e seco-a de imediato. Quase que me apetece beijá-la. Em pouco tempo transformou-se na minha amante curadora de memórias, que ouso chamar minhas. É como roubar ao envolvente…o direito de privacidade.

Neste “falar” interno, neste monólogo forçado, nem me apercebo da tua chegada. Não me falas…não dizes nada, olho-te e vejo-te uma lágrima…correr no rosto. Apresso-me a secá-la com um beijo doce como sempre…e, uma pétala silvestre de um malmequer branco…faz-me uma cócega…e deixa soltar um “desatinado” segredo:
- Como é que queres beijar a saudade?
De braços caídos…sorrio-lhe…e, agarro-a quase em força. Retenho-a na mão fechada…depois deixo-a respirar…abrindo vagarosamente a mão. Ouço outro segredo…::
- Queres-me levar ?
Perante o meu acenar afirmativo…
- Muito bem. Coloca-me na página do livro, que ainda não escreveste…sonha que um dia serás escritor de sonhos…enquanto sonhares…e, seca-me a cor…nunca o odor…
- Muito receoso…pergunto:
- E posso chamar-te... amor?
- Podes…se o soletrares muito devagar…
- Porquê ?
- Para teres tempo …
