A medo, telefonou-me cerca das vinte horas. Perguntava-me se eu iria jantar. Confesso, que não é a primeira vez, que sou obrigado a desculpar-me, por razões profissionais..."mea culpa". Mas ela entende, que o trabalho do pai, muitas vezes, não tem horários. Perguntei-lhe se tudo estava bem...disse-me que sim...
Quando cheguei a casa, passava um pouco da meia-noite e, ainda tinha algum trabalho para realizar...
Uma torrada, um copo de leite...e quando me sento na secretária...um pequeno livrinho artesanalmente feito, "escondia" dez pequenas histórias...e uma nota carinhosa:
- Se tiveres tempo, lê estes contos...depois diz qualquer coisa. Estive a pensar....e ser escritora também pode ser uma profissão. Beijinho. Até amanhã.
Li todos os contos...com muita emoção ...e tive mesmo de limpar os óculos, porque ...acontece!
De todos os contos, escolhi este...não por ser o melhor,mas pela escrita tocante...

O DIÁRIO DO CÃO "RUFOS"
Era uma vez um cão chamado RUFOS.
O cão não tinha amigos e, vivia sozinho nas ruas.
Uma vez o RUFOS, encontrou um livro sem nada escrito.
O RUFOS achou estranho, mas não ligou muito...e teve logo uma ideia.
Pensou em voz alta:
- Este livro, pode ser o meu diário... e, começou logo a escrever.
Segunda, 15 de fevereiro de 19 ...
Querido diário. Hoje encontrei-te no meio da rua e, espero que me ajudes.
Vou contar-te um segredo. Eu não tenho amigos...excepto tu. Por isso, vou escrever-te todos os dias, a contar coisas da minha vida, para me conheceres.
Hoje, não fiz nada de especial. Andei à procura de comida, aqui e ali e, dormi debaixo de umas escadas. Amanhã, escrevo-te mais. Adeus!
O maior sonho do RUFOS, era ter um amigo com quem brincar...e o diário já era uma grande ajuda. Mas ele queria mais...queria um dono!
Um dia, quando acordou "à força"...estava numa gaiola. Assustou-se, mas felizmente tinha o diário consigo. Tinha ido parar a um canil !
Ficou muito assustado...e esperou o pior. Mesmo ao lado, estavam mais cães engaiolados como ele...
No dia seguinte, o RUFOS viu uma pessoa aproximar-se. Com medo, olhou para baixo...mas depois ouviu um menino dizer:
- Quero este...papá...
As portas abriram-se e, foram festas e "lambidas" até mais não. Tinha encontrado um dono. O seu desejo, o seu sonho era agora uma grande verdade. Mas nunca largou o seu diário.
O RUFOS foi para uma casa nova, onde lhe davam comida todos os dias, levavam-no a passear e quanto a miminhos...até eram demais. Às vezes queria dormir e, não conseguia por causa da brincadeira.
Apesar de agora estar muito feliz, continuou todas as noites a escrever no seu diário.
O RUFOS, foi um cão com muita sorte e, aprendeu uma grande lição:
- Nunca se abandona um amigo, quando se faz um novo!
in - Contos ( M. ) - 2009